segunda-feira, 10 de junho de 2019

CARTAS PARA ALICE - Carta 62


CARTAS ´PARA ALICE
Carta 62

Bom dia Alice!

Estamos em época de festas juninas, julinas e quermesses religiosas.
Eu fico pensando e dou muita risada Alice, acho cômico no dia de São João, São Pedro, Santo Antônio e outros tantos Santos, que as pessoas se vistam como as pessoas humildes de tantos tempos atrás, porque atualmente não existe caipira maltrapilho e muito menos com tão poucos dentes na boca.
Que exista quadrilha e a única preocupação do delegado é o casamento do infeliz que quer correr a todo o custo de sua má sorte e o padre vindo armado para fazer o casório, e todo o mundo grita “olha a cobra” e o diabo infeliz foge até ser resgatado e traze-lo em frente ao altar, e por isso dizem que Santo Antônio Casamenteiro é milagreiro, mas a noiva está buchuda e não teve santo remédio que pudesse evitar aquele enlace, e nem se sabe mesmo se o filho era dele e se a mocinha era mesmo mocinha e se ele não era fértil, mas o delegado o prendeu e só o soltará após o casório. Triste fim do garanhão do rincão.
E a música toca, com a filha de João, Antônio ia se casar, mas Pedro fugiu com a noiva na hora de ir para o altar...
Isso é uma tragédia em tempos caipiras, onde já se viu a filha trair João o pai fazendeiro, coroné das antiga,  que tinha arquitetado o casamento com Antônio, que tinha fartura em sua fazenda, abundância e riqueza eram seu sobrenome, fugindo com Pedro, que não tinha posses e era trabalhador, cuidador de ovelhas, caprinos, equinos e toda a sorte de porcos e galinhas, e nada era seu, tudo era de Antonio e João, que ficaram abraçados chorando a partida da dama que preferiu a simplicidade do amor, do que a dor da escravidão da alma.
E para comemorarmos o infortúnio de um Santo e a sorte de outro, comemos pinhão, pipocas, cachorros quentes, e um monte de engordices, ao sabor dos quentões e vinhos quentes, e para os mais desprevenidos uma cachacinha da boa ou um copo de cerveja, por vez e claro.
Hoje os balões não tingem mais os céus com tanta frequência, porque delinquiram a soltura dos balões, e somente os verdadeiros criminosos, aqueles das quadrilhas que escaparam do delegado real, que por fim só está preocupado em prender os roubadores dos corações alheios.
Não temos mais balões Alice, e os Santos estão ocupados com tantos pedidos de pessoas tristes e doentes. Santo Antônio não consegue mais curar a dor de tanta solidão, e não faz mais milagres e são poucos casamentos, nem rurais nem urbanos, e as meninas engravidam cedo e os meninos fogem e os delegados não prendem ninguém e os padres estão ocupados sendo processados porque não estavam rezando. São Pedro e São José não tem mais tempo porque os hospitais estão lotados e as dores são intensas e não há trabalho e não há dinheiro, e a fome está tomando conta das pessoas e a água não dá para todos, e os gados morrem, e os homens morrem, e os políticos engordam e não há mais balões Alice.
As festas estão mais frias porque os quentões e vinhos quentes  já não esquentam mais, e as quadrilhas foram soltas pelo STF e o delegado tem medo de ser filmado prendendo o bandido que roubou a virgindade da filha do Coroné.
Vamos dançar quadrilha Alice?

Chapeleiro Louco.




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