quinta-feira, 11 de junho de 2009

O cansaço do sol.


O cansaço do sol.

Estou cansado de ser sol.
Esquentar as pessoas,
Dar a luz, que tantos sequer vêem.
Olho as pessoas com seus óculos escuros,
Escondendo-se de mim, da minha claridade,
Preferindo a escuridão.
Quantas poesias a mim são dedicadas?
Somente contemplam a Lua, com sua frieza.
E mesmo assim se derretem a ela dando-lhes o seu calor.
E a mim?
Não sou ciumento. É apenas um lamento.
Tantas pessoas que amo sequer me vêem nascer,
Que faço todos os dias magnificamente.
Poucos poetas conseguem descrever a dádiva de me ver chegar ao leste.
Falar sobre os meus primeiros raios.
Despontando e dizendo que estou chegando,
Que estou voltando para dar a vida às flores,
Que com o meu calor brotam tão belas.
Para dar o canto dos pássaros,
Ah! Esses pequenos bichinhos voadores sabem realmente como me fazer feliz.
Assoviam, batem as asas e procuram a água corrente mais próxima para se banharem.
E depois ficam se secando com o meu calor.
Como gosto de despontar e ver os pássaros,
Até parece que coloco meus olhos sobre o horizonte,
Como quem espia, sorrateiramente,
Só para que as aves não me vejam de uma vez,
E assim não fiquem tímidas e possam cantarolar alegremente.
Todos na natureza me exaltam.
Cada qual à sua maneira,
Desde as árvores, até a própria Terra.
Mas o homem,
Ah, esses homens, feitos à imagem e semelhança do Pai,
Como queria que me admirassem.
Não só nos dias de frio,
Ou nos dias nublados.
Chuvosos.
Só lembram-se de mim na dor.
Não no amor.
Poucos casais gostam de fazer amor à minha vista.
Com a minha luz e meu calor aquecendo-os.
Estou cansado.
Há milênios... todos os dias.
No mesmo horário aponto.
No mesmo horário me recolho,
Nos quatro cantos do planeta.
E o planeta tem canto?
Não encanto...
Nasço e morro todos os dias,
Para todas as nações.
E ao mesmo tempo nunca me apago.
Ardo em minhas entranhas
Para aquecer a todos.
Mesmo nos lugares mais frios, eu apareço.
Mesmo que meu calor não seja suficiente para queimar seus corpos,
Mas é o suficiente para dar-lhes a saúde.
Não ouço sequer um muito obrigado.
Será que é por causa da minha masculinidade?
Será que a Lua, por ser feminina é mais cortejada?
Estou cansado de ser Sol.
Não tenho férias.
Não tenho descanso.
Não tenho folga.
24 horas somente de dia.
Não tenho noites.
Não uso desodorante.
Não tomo refrescos.
Não jogo futebol.
E ninguém quer me amar.
Me cortejar...
Seres humanos,
Os seres mais dedicados de nosso Senhor.
Que mais dispensam suas energias.
Seres de todos os planetas que mais atraem seus olhos.
Sequer se viram para mim.
Quem sabe um dia...
Recordem-se desse ser lamurioso,
Enquanto isso, vou queimando e ardendo,
Cada vez com mais intensidade,
Só para chamar a atenção.
Estou cansado de ser sol.

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